O Bradesco diz que não proíbe o uso de barba e que bancários não a utilizam por uma pretensa questão cultural. E, de fato, em nenhum normativo do banco existe qualquer referência à tal proibição. Entretanto, nas últimas semanas, o banco demitiu dois funcionários barbados com a justificativa de que apresentavam baixa produtividade, faltas e atrasos. A denúncia é do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
De acordo com o relato dos bancários ao Sindicato de São Paulo, poucos dias antes das demissões, o supervisor pleno chamou individualmente funcionários que usavam barba para uma conversa. Foi quando falou para eles que não havia problema ali no departamento, que o banco não era contra, mas que usar barba poderia prejudicá-los no caso de uma promoção, que poderiam não ser chamados para entrevistas, que nem todos os gestores lidavam bem com a questão.
Foi uma forma de dizer tira isso, raspa essa barba. De uma maneira velada, quis dizer que se a gente não tirasse a barba, seríamos punidos, conta um dos bancários. Dois ou três dias depois dessa conversa, fomos demitidos, acrescenta o outro trabalhador mandado embora na mesma situação.
A justificativa alegada pelo Bradesco para as duas demissões é a mesma: metas, faltas e atrasos. Porém, nenhum dos dois trabalhadores considera procedentes os motivos apresentados. Para mim, foi uma desculpa, diz um. Eu tinha uma falta em setembro e outra em fevereiro. E, quanto aos atrasos, tinha banco de horas e, se atrasava, o tempo era descontado, acrescenta o colega.
Com as demissões, o Bradesco conseguiu intimidar outros funcionários do mesmo departamento que ousavam expressar sua individualidade. Depois do que aconteceu com a gente, eu fiquei sabendo que o pessoal todo raspou a barba, conta um dos demitidos.
Estamos em 2016 e ainda existem gestores preocupados com este tipo de bobagem, que não afeta em nada o desempenho do bancário. É inadmissível a prática de discriminação estética contra os trabalhadores. O Sindicato irá prestar toda assessoria jurídica para os dois demitidos e para todos os outros que nos procurarem em decorrência de qualquer tipo de perseguição relacionada com o tema, uma vez que existe jurisprudência favorável aos bancários que usam barba, critica o dirigente sindical e funcionário do Bradesco Marcelo Peixoto.
É necessário que o banco faça valer seu discurso de que não existe proibição. Que honre sua palavra. Para isso, é urgente que deixe clara essa posição, de maneira formal, para todos os funcionários. O Sindicato, no seu papel em defesa da categoria, irá procurar pessoalmente todos os gestores, que não são maioria na instituição, que criam impedimentos para a livre expressão individual dos subordinados, destaca o dirigente.
O bancário que se sentir discriminado, perseguido ou sofrer qualquer tipo de punição pelo uso da barba pode fazer a denúncia ao Sindicato através do canal de denúncias (clique aqui), a algum diretor ou pelo 4034.0893. O sigilo é garantido.