Na já tradicional entrevista de fim de ano, o presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários, Carlos Cordeiro, fez um balanço positivo de 2014 e apontou desafios e expectativas para 2015. Além de fazer análises e projeções, ele agradeceu a participação de cada bancário e de cada bancária nas mobilizações, o que foi decisivo nos avanços conquistados pela categoria e pelos trabalhadores.
“Quero agradecer, e muito, a participação de cada bancário e de cada bancária nas lutas e conquistas que tivemos, não só na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), que é uma das melhores do país, mas também nas mobilizações no Congresso, como o combate ao PL 43330, e na disputa eleitoral, onde o bancário não vacilou na hora de escolher o projeto que melhorou a vida dos brasileiros”, destacou Cordeiro, que é também vice-presidente da UNI Américas Finanças.
Leia a íntegra da entrevista:
2014 foi um ano atípico. Teve Copa do Mundo no Brasil, eleições presidenciais e mais uma campanha nacional dos bancários. Que balanço você faz deste ano?
Nós tivemos uma dupla vitória em 2014. Na mobilização e negociação com os bancos conquistamos aumento real pelo 11º ano consecutivo e tivemos várias conquistas econômicas e sociais. Ao mesmo tempo, os bancários entenderam a conjuntura política que atravessamos e, na campanha eleitoral, defenderam a importância de manter um projeto que dialoga com os trabalhadores. Foram duas vitórias expressivas e muito significativas.
A Campanha 2014 foi simultânea à campanha eleitoral. Foi mesmo um cabo de guerra, como mostrava a mídia nacional da campanha, com os bancários de um lado e os bancos de outro?
Pela primeira vez, os bancos saíram da toca e optaram abertamente por candidaturas. Primeiro eles apoiaram a Marina e depois o Aécio. Eles disputaram o papel do Banco Central, o tamanho dos bancos públicos, a política de crédito. Isso exigiu uma mobilização muito maior dos bancários, que debateram o papel dos bancos e do BC, mostrando que o que é bom para os banqueiros não é bom para a sociedade. Eles só buscam lucros e não pensam no desenvolvimento econômico e social do país beneficiando toda a sociedade. Essa posição dos bancos os deixou expostos e isso ocorreu durante as negociações da Campanha Nacional. Foi mesmo um cabo de guerra que disputamos com os bancos e nós vencemos.
Com os resultados já conhecidos, como você vê hoje avalia a participação dos bancários?
A participação foi importantíssima. Na Campanha Nacional, os bancários deram uma demonstração de que estavam muito atentos e mobilizados, o que fez com que a greve deste ano fosse mais curta. A paralisação começou inclusive muito mais forte do que no ano passado. Os bancários entenderam o seu papel, fizeram a luta e merecem os parabéns pelo grande enfrentamento.
No processo eleitoral, os bancários foram protagonistas no debate do sistema financeiro, combatendo a independência do Banco Central e defendendo o fortalecimento dos bancos públicos. A categoria compreendeu que tinha que se mobilizar, enfrentar os banqueiros e o mercado e apontar um modelo diferente de banco para o país crescer. Um modelo onde os bancos públicos e privados têm que estar voltados para atender os interesses da sociedade. Um modelo onde o BC deve atuar como agente fiscalizador e colocar o crédito a serviço do desenvolvimento e não da especulação.
A direita neoliberal e uma parte considerável da oposição, incluído aí o próprio candidato Aécio Neves, parecem que ainda não aceitaram a derrota. Como você vê esse cenário?
O Brasil vive um momento importante da democracia. Apesar do financiamento privado de campanha e da concentração da mídia nas mãos de poucas famílias, o debate eleitoral foi ampliado com o acesso livre à internet e as manifestações nas ruas, o que foi decisivo para furar o cerco do poder econômico.
Com as vitórias de Lula e Dilma, a direita e os conservadores estão muito preocupados. São quatro derrotas consecutivas. Eles vão continuar perdendo enquanto não enxergarem os avanços sociais. Não adianta tentar ganhar no tapetão. O caminho é a democracia. O Brasil não pode voltar ao passado. Ditadura, nunca mais!
O Comando Nacional e a Executiva da Contraf-CUT fizeram uma reunião conjunta para analisar a conjuntura política em 27 de novembro, em Brasília, com a participação do ministro Berzoini e dos deputados Assis Carvalho (PT-PI) e Erika Kokay (PT-DF). Os bancários deverão estar mais atentos para a disputa política e fazer mais mobilizações daqui pra frente?
Há muito tempo a Contraf tem dialogado com deputados e senadores. Muitas questões passam pelo Congresso Nacional. A partir de agora, precisamos estar muito mais atentos para disputar os projetos, ainda mais diante da redução da bancada de parlamentares comprometidos com os trabalhadores no Congresso. Além disso, a direita está se organizando para fazer a disputa.
Por isso, os bancários precisam se organizar muito mais para defender os seus direitos, sobretudo para combater o PL 4330 da terceirização, impedir retrocessos e garantir avanços. E temos que avançar na distribuição da renda e para isso só tem um caminho, que é a melhoria dos salários. É preciso mobilizar, mobilizar e mobilizar.
A reeleição da Dilma foi muito importante para dar continuidade às conquistas sociais dos últimos 12 anos. Mas daqui pra frente não teremos um processo fácil. E a Dilma já percebeu que só haverá avanços com mobilização social.
Quais os desafios dos trabalhadores, principalmente dos bancários, para 2015?
Nós temos que garantir mais e melhores empregos, fortalecer mecanismos de combate à rotatividade, avançar na melhoria da saúde e das condições de trabalho, na distribuição de renda por meio da melhoria dos salários, na luta por uma aposentadoria digna.
Também precisamos fortalecer o combate ao PL 4330, bem como a luta pelo fim do fator previdenciário, a ratificação da Convenção 158 da OIT que proíbe demissões imotivadas, o fim da política de rotatividade e a regulamentação do sistema financeiro.
É também fundamental atuarmos junto com os demais trabalhadores pela redução da jornada de trabalho para 40 horas sem diminuição de salários e fazer a reforma política, para que possamos acabar com o financiamento privado de campanha, onde os bancos e as empresas financiam e elegem candidatos comprometidos com os seus interesses.
Outro desafio é democratizar a mídia. É inadmissível que o Brasil continue sendo um dos países, onde poucas famílias controlam os meios de comunicação, ao contrário de outras nações que não permitem que famílias, como Marinho e Civita, sejam donas da mídia.
Também precisamos mobilizar os trabalhadores para a redução dos juros, a ampliação do crédito e uma política de investimentos, a fim de se contrapor à movimentação dos bancos e do mercado financeiro. Queremos transformar crescimento em desenvolvimento econômico e social com geração de empregos e distribuição de renda.
Além disso, os bancários e os trabalhadores precisam continuar a se mobilizar para evitar qualquer retrocesso democrático. Temos que defender com muita firmeza a democracia e a participação popular.
Qual é a mensagem que você gostaria de enviar para cada bancário e cada bancária do Brasil?
Quero agradecer, e muito, a participação de cada bancário e de cada bancária nas lutas e conquistas que tivemos, não só na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), que é uma das melhores do país, mas também nas mobilizações no Congresso, como o combate ao PL 43330 e na disputa eleitoral, onde o bancário e a bancária não vacilaram na hora de escolher o projeto que melhorou a vida dos brasileiros.
Com unidade e mobilização, esperamos avançar ainda mais em 2015, especialmente no combate às metas abusivas, na melhoria da remuneração e das condições de trabalho e na aposentadoria digna. Mais do que nunca, as mobilizações serão fundamentais para avançarmos na luta por emprego decente, maior distribuição de renda, justiça social e cidadania.