Em novembro de 2019 fui reeleita, em primeiro turno, como representante dos empregados para o Conselho de Administração. Recebi 82% dos votos válidos, numa disputa com 203 candidatos. O resultado me emocionou e garantiu a coragem necessária para seguir em frente, defendendo de forma intransigente a Caixa Pública e os direitos dos empregados. A participação recorde dos colegas na votação e o apoio das entidades mostraram a força do coletivo, da união.
Eu vinha de uma gestão marcada por constantes reuniões em locais de trabalho, cheguei a visitar 22 estados brasileiros, mas poucos meses depois, com a chegada da pandemia de covid-19, esses encontros passaram a ser remotos, resultando em rápida expansão da nossa comunicação virtual, com lives, publicações, podcasts.
A crise sanitária trouxe para os bancários e prestadores de serviço da Caixa um sentido maior da palavra superação, já que a covid-19 acarretou mortes, tristeza e a necessidade de cumprimento do papel social da empresa, exigindo de seus trabalhadores rotinas extensas (e com grande risco de contaminação) para atender dignamente a milhões de brasileiros desamparados pela crise econômica e social.
Junto com as entidades, defendi a necessidade do home office, protocolos de segurança nas agências, vacina para todos, contratações, investimentos em tecnologia e humanização das relações de trabalho, sem a cobrança exacerbada por metas.
No debate interno do Conselho me posicionei contra a colocação de teto no Saúde Caixa no estatuto, a privatização das operações (Cartões, Loterias, DTVM, Seguros) e todo tipo de fatiamento do banco, como os IPOs; votei contra a devolução dos IHCDs instrumentos foram usados para que o banco ampliasse sua atuação nas políticas públicas; e a criação do banco digital (outra instituição financeira).
Fui a favor de todas as pautas que envolvem a expansão do papel da Caixa, ampliação das operações, abertura de agências, ocupação de cargos de dirigentes por empregados de carreira, respeito a diversidade, aprimoramento das medidas de sustentabilidade, integridade e maior transparência.
Obviamente, ser minoria não é fácil: o CA é composto por 8 membros e, destes, 7, incluindo o presidente do banco, são indicados pelo governo. Sou a única empregada até setembro era a única mulher e voz destoante da maioria dos conselheiros em assuntos que envolvam a privatização das operações, a retirada de direitos dos empregados e ameaças à sustentabilidade, perenidade, uso da imagem da instituição.
Com isso, a pressão é grande e se dá de várias formas. No último período foi aberto procedimento interno no colegiado contra mim, sobre supostos conflitos de interesses. Em um deles questionam meu posicionamento a favor de greve dos empregados ocorrida em abril. Situação parecida acontece também com conselheiros eleitos de outras estatais. Exemplo dos ataques que vivemos no país hoje contra as representações dos trabalhadores e a democracia.
Em resposta surgiu uma forte onda de solidariedade e apoio vindo dos empregados e entidades, referendando minha atuação. Primeiro veio dos colegas, com a pesquisa virtual realizada em março passado que apontou que minha atuação como representante dos empregados no Conselho de Administração tem a aprovação de 94% dos trabalhadores da ativa: 79% a consideraram ótima e 15% boa. A pesquisa foi respondida por 1.754 bancários, sendo 1.201 da ativa e 553 aposentados. Mais recentemente, as entidades sindicais e associativas que representam os empregados da Caixa divulgaram documento em que ratificam o apoio ao mandato.
Os desafios continuam grandes, mas acredito que nosso futuro é muito maior que nosso presente, e por essa razão sigo nessa jornada de lutas com vocês. Sou uma única voz, mas sei que não estou sozinha.
Mais uma vez, convido cada um a participar da gestão, mandando sugestões, críticas, opiniões e fortalecendo, assim, a tão expressiva e bela palavra que nos une desde a origem: Juntos, para o que der e vier.
Maria Rita Serrano é conselheira de administração da Caixa eleita pelos empregados. Mestre em Administração, é autora do livro ´Caixa, banco dos brasileiros´ (2018) e coautora de ´Se é Público é para todos´ (2018). Também é coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas e conselheira fiscal na Fenae