A inclusão, com garantia de ascensão, às pessoas com deficiência (PCDs) no setor bancário foi o tema que abriu a mesa de negociações sobre “Saúde e Condições de Trabalho”, realizada nesta quinta-feira (18), entre o Comando Nacional dos Bancários e a Comissão de Negociações da Federação Nacional dos Bancos (CN Fenaban), no âmbito da campanha nacional da categoria para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT).
Segundo levantamento do Dieese, considerando todos os cargos da categoria bancária, os PCDs representam apenas 4%. Nos cargos de liderança, esse percentual é ainda menor: apenas 2%.
“Nossa reivindicação é pela garantia não apenas do acesso ao emprego no setor, mas de ascensão, com o combate ao capacitismo (preconceito contra as pessoas com deficiência) para que esse grupo tenha igualdade de oportunidade nos processos de ascensão de carreira. E isso inclui a garantia de suportes específicos, conforme a condição da pessoa com deficiência, para que ela consiga desempenhar suas atividades”, destacou o secretário-geral Contraf-CUT, Gustavo Tabatinga.
A funcionária do Banco do Brasil, secretária da Juventude da Contraf-CUT e também mãe de uma adolescente PCD, Bianca Garbelini, ressaltou a reivindicação para que mães e pais de pessoas com deficiência tenham a redução de jornada para acompanhamento médico e educacional dos filhos. “Podemos pensar ainda na priorização para o teletrabalho, não só para os pais e mães de PCDs, mas também aos bancários e bancárias com deficiência”, complementou.
Outra reivindicação da categoria apresentada na mesa é o abono de faltas aos trabalhadores com deficiência, considerando que, muitas vezes, precisam se ausentar do trabalho para ajustes técnicos de equipamentos e próteses ou realização de terapias específicas, conforme a condição da deficiência.
A coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e presidenta do Sindicato de São Paulo, Osasco e Região (Seeb-SP), Neiva Ribeiro, ressaltou que as reivindicações para os trabalhadores com deficiência reforçam reivindicações da mesa anterior, sobre Igualdade de Oportunidades, sobretudo na questão das mães de PCDs.
“São reivindicações que se cruzam, porque sabemos que a responsabilidade de cuidado recai mais sobre as mulheres. Além disso, a mulher com deficiência tem mais dificuldade de acessar o mercado de trabalho. O levantamento do Dieese, por exemplo, revela que do total de PCDs na categoria 44% são mulheres e 56% homens”, completou.
Também com base nos dados do Dieese, Neiva destacou que os PCDs bancários têm remuneração média 37,6% inferior à remuneração média das pessoas sem deficiência. Se for mulher negra PCD, a remuneração média é 48% inferior a remuneração média geral da categoria.
A presidenta da Federação das Trabalhadoras e dos Trabalhadores no Ramo Financeiro do Estado do Rio de Janeiro (Federa-RJ), Adriana Nalesso, reforçou a necessidade de os bancos reposicionarem o olhar sobre PCDs, não apenas para cumprir o Decreto Federal (nº 3.298, de 1999), que determina que empresas com mais de 100 funcionários destinem, obrigatoriamente, de 2% a 5% do seu quadro para profissionais com deficiência, “mas também para valorizar as potencialidades desse grupo, e oferecer o que necessitam para que permaneçam e ascendam na carreira”.
O secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles, falou sobre os casos de capacitismo sofridos por bancários PCDs. “Além de equipamentos necessários, conforme a condição de cada um, é preciso conscientização dos gestores, para não haver mais a discriminação”, completou.
Neurodivergentes
Os trabalhadores também destacaram a questão dos neurodivergentes, pessoas com diferenças neurológicas variáveis e que podem ou não ser deficientes. “Sou uma pessoa neurodivergente, TDAH, que não é uma deficiência. O que observamos é que um funcionário neurodivergente, não pode ter medo de ser quem ele é. Tem que ter segurança e abertura para conversar com o gestor sobre as adaptações que necessita, sem medo de sofrer retaliação”, observou Bianca Garbelini.
Ainda na questão da neurodivergência, foi ressaltado um cuidado especial às pessoas do espectro autista, que são consideradas com deficiência. “Muitas empresas não estão preparadas para lidar com pessoas autistas, apesar de terem alto desempenho no trabalho, quando respeitadas suas peculiaridades”, explicou Mauro Salles.
Além da inclusão de cláusulas sobre a contratação de trabalhadores com deficiência e redução da jornada para acompanhamento médico e educacional de pais com filhos PCDs, sem redução salarial, os trabalhadores reivindicam na Convenção Coletiva de Trabalho:
– Adequação do ambiente de trabalho segundo a natureza e grau de deficiência do empregado;
– A vedação de transferência de PCDs, salvo por pedido do trabalhador;
– A constituição de uma comissão bipartite (indicados pela Contraf e Fenaban) para deliberar sobre a contratação de trabalhadores com deficiência e sobre políticas de inclusão;
– Inclusão e capacitação de pessoas com deficiência;
– Financiamento de veículos para empregado com deficiência;
– Estacionamento exclusivo para empregados com deficiência;
– Abono de faltas aos trabalhadores com deficiência; e
– Aumento de auxílio para pais com filhos com deficiência.
Os representantes da Fenaban reconheceram que ainda há muita desinformação sobre o tema, em especial na questão dos neurodivergentes, e disseram que vão levar as demandas da categoria aos bancos, para construir respostas às reivindicações.
Devolutiva da mesa Igualdade de Oportunidades
A pedido dos trabalhadores, os representantes dos bancos trouxeram os números dos canais de apoio e acolhimento às mulheres vítimas de violência doméstica, conquista da categoria na CCT.
De abril de 2020 a julho de 2024, foram atendidas 607 mulheres em 12 canais estabelecidos pelos bancos, que resultaram em 2.094 sessões. Desse total, foram realizadas 47 realocações de local de trabalho, a pedido das próprias bancárias. A realocação de trabalhadoras em situação de violência também é resultado de convenção coletiva.
Também, como fruto dos canais, ocorreram 3 concessões de crédito especial e 4 flexibilizações de jornada de trabalho às mulheres em situação de violência, a pedido das próprias funcionárias.
Segurança
Os trabalhadores apresentaram dados de uma consulta, encomendada ao Dieese, com bancários de unidades de negócios e postos de autoatendimentos, de todas as regiões do país. Ao serem perguntados se, nos últimos 24 meses, sofreram algum tipo de agressão, partindo de clientes ou usuários, 69% responderam que sim.
“Nos deparamos com denúncias de funcionários, na base dos sindicatos, de grande sensação de medo nos locais de trabalho, ainda que em locais onde não há manipulação de numerários (dinheiro em espécie). E muitos que sofreram agressões físicas ou verbais de clientes não repassam essa questão aos seus superiores com medo de perderem o emprego”, destacou Gustavo Tabatinga.
Quando perguntados qual foi a primeira pessoa que o funcionário procurou, no momento da agressão, a resposta da maioria (38,7%) foi o vigilante. “Isso mostra a importância de manter esses profissionais da segurança nos bancos”, frisou Tabatinga.
Além da segurança bancária no ambiente físico, os trabalhadores reivindicaram a segurança bancária no ambiente digital. “No processo de fechamento de bancos tradicionais e abertura de unidades de negócios, os bancos estão abrindo mão de portas de segurança e contratação de vigilantes. Mas isso não pode acontecer, porque a insegurança continua, mesmo que não tenha a transação de dinheiro físico, existe o dinheiro digital”, explicou o coordenador da Comissão Negociadora de Segurança Bancária da Contraf-CUT, Jair Alves.
“Estamos falando da natureza de um negócio que é financeiro, envolve dinheiro e onde, muitas vezes, os funcionários precisam lidar com clientes insatisfeitos e que não sabem lidar com suas emoções e agridem”, complementou o presidente do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região, Ramon Peres.
Os trabalhadores reforçaram que o tema dialoga diretamente com a saúde, uma vez que a elevada sensação de insegurança e medo tem impactos na saúde mental das bancárias e bancários. “A retirada de portas de segurança e de vigilantes é extremamente temerária. Esses mecanismos se mostraram eficazes. Retirá-los é um retrocesso. Antigamente, porque tinha dinheiro, os bancos implementaram essas medidas como necessárias, agora que não há o dinheiro em espécie, retiram vigilantes e portas giratórias. Então, os trabalhadores não podem ser protegidos?”, questionou Mauro Salles.
Os representantes dos bancos justificaram que as portas giratórias causam “constrangimentos” aos que possuem alguma dificuldade de mobilidade. Também afirmaram que as mudanças estruturais do setor reduzem a necessidade de vigilantes e portas giratórias.
Neiva Ribeiro rebateu que os dados coletados pela consulta da Contraf-CUT demonstram que os riscos e exposição à violência continuam. Ela também observou que a violência digital está aumentando, e os bancos precisam trazer uma resposta sobre o tema.
“A sensação de insegurança entre trabalhadores, com a redução de vigilantes e retirada de portas de segurança, que mostramos na nossa consulta, não intimida os bancos que, infelizmente, não quiseram apresentar nenhuma proposta”, complementou Tabatinga.
Calendário
Julho
25/07 – Saúde e condições de trabalho: combate aos programas de metas abusivas
Agosto
6 e 13/08 – Cláusulas econômicas
20/08 – Em definição
27/08 – Em definição
Fonte: CONTRAF