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Acordos com aumento real de salário cresceram em 2014, aponta Dieese

20 Mar 2015 68 VISUALIZAÇÕES

Em 2014, cresceu o número de negociações salariais que conseguiu ganhos reais para os trabalhadores. Segundo estudo divulgado nesta quinta-feira (19) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 91,5% dos acordos firmados entre patrões e trabalhadores garantiu reajuste acima da inflação. Em 2013, o índice ficou em 86,2%. O estudo considera a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O reajuste médio conseguido nas negociações de 2014 ficou em 1,39%, maior que o 1,22% alcançado em 2013, porém menor que o registrado em 2012 – 1,90%. Nas negociações do ano passado, 44,8% terminaram com acordos que possibilitaram aumento real entre 1,01% e 2%. Em 25,1% dos acordos, o reajuste foi no máximo 1% acima da inflação e em 6,1% dos casos houve apenas reposição das perdas medidas pelo INPC. De acordo com os dados, em 2,4% dos casos o reajuste ficou abaixo da inflação.

Em 2013, o percentual de reajustes abaixo da inflação foi maior (6,3%). A quantidade de acordos que garantiram apenas as perdas inflacionárias em 2013 também foi maior (7,5%). Em 2012, os reajustes abaixo da inflação representaram 1,4% dos acordos. Naquele ano, 93,9% das convenções permitiram aumento acima do INPC.

Na avaliação do coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, alguns fatores permitiram que os acordos em 2014 fossem melhores do que os de 2013, apesar do desempenho da economia, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB), ter sido pior no ano passado.

Um dos pontos que contribuiu favoravelmente para esse cenário, segundo Silvestre, foi o baixo nível de desemprego. “Mesmo com o mercado de trabalho com tendência de perda da dinamicidade e geração de novos postos, os níveis de desemprego foram baixos”, destacou em referência a 2014. As desonerações concedidas pelo governo federal a alguns setores econômicos também permitiram maior margem de negociação em favor dos trabalhadores, na opinião de Silvestre.

Na divisão por setores da economia, o comércio teve o maior percentual de acordos com aumento real (98,2%) em 2014. Na indústria o índice ficou em 90,9% e no setor de serviços 89,2%. Entretanto, os maiores reajustes (acima de 3%) se concentraram na indústria e no setor de serviços, em 6,9% dos casos e 5,8%, respectivamente. No comércio apenas 2,7% dos aumentos ultrapassaram esse patamar.

O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Cláudio do Prado, ponderou que, apesar dos ganhos acima da inflação obtidos nos acordos, os trabalhadores acumulam perdas pela rotatividade da mão de obra, que reduz os salários médios.

“A rotatividade tem diminuído o poder aquisitivo do trabalhador. Então, se a gente não levar em consideração a rotatividade e só levar em consideração as convenções coletivas, é uma avaliação que não é muito correta”, comentou.

Para Silvestre, a obtenção de ganhos reais em 2015 dependerá ainda mais da mobilização dos trabalhadores. “A mobilização vai ser ainda mais importante, por conta desse cenário de incertezas”, enfatizou. Ele lembrou também que nos últimos anos a geração de empregos tem diminuído.

“Pelos indicadores, o mercado de trabalho brasileiro já vem perdendo força desde 2012”, acrescentou sobre os fatores que podem tornar as negociações mais duras daqui para frente.