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Bancos rejeitam reivindicações de igualdade e insistem que não há discriminação

11 Sep 2015 74 VISUALIZAÇÕES

Nada de diferente. O não continua sendo a palavra usada pelos banqueiros na hora de negociar as reivindicações dos funcionários da Campanha Nacional 2015. Foi assim nas duas primeiras rodadas, com os temas emprego, saúde, segurança e condições de trabalho. A Fenaban não saiu da mesma toada, nesta quarta-feira (9), em São Paulo, com as reivindicações sobre igualdade de oportunidades, as quais visam corrigir discriminações históricas de gênero, raça e orientação sexual nos locais de trabalho.

A Fenaban voltou a negar os problemas, mas o ambiente bancário ainda está longe de ser democrático. O II Censo da Diversidade, conquistado pela categoria e divulgado em 2014, pela própria Fenaban, revelou que as mulheres ganham 22,1% a menos que os homens. A remuneração dos trabalhadores negros também permanece desigual, 12,7% mais baixa na comparação com brancos, apesar de 74,5% terem curso superior. Do universo de 511 mil bancários, apenas 3,4%, ou 17 mil trabalhadores, se autodefiniram como pretos na pesquisa.

“As negociações têm sido duras, muito duras, mas estamos mobilizados. Os bancos continuam ganhando muito e vão ter que atender nossas reivindicações”, afirmou o presidente da Contrarf-CUT e um dos coordenadores do Comando Nacional do Bancários, Roberto Von der Osten.

Durante a negociação, o Comando Nacional dos Bancários ressaltou a necessidade de democratizar o acesso ao trabalho para mulheres, negros, indígenas, homoafetivos e trabalhadores com deficiência, para que tenham igualdade de condições de contratação, independentemente de idade e condições econômicas.

Mulheres
As mulheres apresentam melhor qualificação educacional que os homens nos bancos. O II Censo da Diversidade identificou que 82,5% têm curso superior completo, contra 76,9% dos homens. Mas além da diferença salarial, as bancárias também estão em menor número nos cargos de direção. De acordo com a Rais, Relação Anual de Informações Sociais, referente ao ano de 2013, elas representam, apenas, 8,4% da diretoria dos bancos.

“No ritmo de correção das distorções vai demorar 88 anos para que as mulheres passem a receber salários iguais aos homens nos bancos. E, na região Sudeste, onde a diferença salarial de gênero é ainda maior, demoraria 234 anos para as mulheres atingirem a mesma remuneração dos homens”, disse Juvandia Moreira, vice-presidenta da Contraf-CUT e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

“Apesar do número de bancárias ter aumentado, isso não mudou a realidade da distorção salarial entre as mulheres e os homens. Elas continuam ganhando menos e ocupando poucos cargos de direção”, ressaltou o secretário de Políticas Sociais da Contraf-CUT, Fabiano da Silva Junior.

Em relação às mulheres negras, a discriminação se acentua ainda mais. Na apresentação do segundo censo, a Fenaban não havia disponibilizado os dados sobre a situação das bancárias negras ao movimento sindical. Cobrados, os negociadores dos bancos ficaram de apresentar, o quanto antes, estas informações específicas da pesquisa.

PCS
Diante da falta de igualdade nos bancos, o Comando Nacional propôs debater um Plano de Cargos e Salários (PCS) para todos, para corrigir as distorções de mobilidade nas carreiras e um processo seletivo interno para promoções. Reivindicaram que os critérios passem a ser objetivos para que todos os funcionários tenham igualdade de oportunidades. A Fenaban usou de levantamento próprio para negar discriminação, argumentando que das últimas promoções de cargos, executadas pelos bancos, 54% foram de homens e 46% de mulheres, muito próximo das porcentagens de distribuição de gênero no emprego bancário.

Os bancários também defenderam o reajuste anual de 1% (um por cento) para os funcionários a cada ano completo de serviço. Os bancos responderam que promoções por tempo de serviço não são mais utilizadas pelas corporações. O critério certo, segundo a Fenaban, é a avaliação das competências e a meritocracia.

“O reajuste anual é visto por nós como uma possibilidade objetiva de combater as desigualdades. Mas os bancos deixaram claro que tempo de casa é coisa do passado, demonstrando sua falta de comprometimento com a valorização dos funcionários que prestam bons serviços por anos a fio para a instituição” criticou Roberto von der Osten.

Pessoas com deficiência (PCD)
Os trabalhadores com deficiência representam, atualmente, apenas 3,6% da categoria bancária, comprovando que os bancos não estão respeitando a cota de 5%, prevista na Lei Federal 8.213, promulgada há 24 anos. O Comando reivindicou mais contratações e solicitou que as instituições parem de incluir os reabilitados que tinham sido afastados por motivo de saúde na cota de PCD, como tentativa de demonstrar que estão cumprindo a legislação.

“O espírito da lei é que as empresas procurem no mercado pessoas com deficiência para serem contratadas, uma responsabilidade social com a inclusão, que os bancos afirmam que têm, mas que continuamos identificando problemas”, explicou o presidente da Contraf-CUT.

Além de não apresentar nenhuma proposta para expandir estas contratações, os negociadores da Fenaban negaram o desrespeito à lei, ao dizer que podem efetuar tal manobra, sem esclarecer o número de trabalhadores reabilitados.

Assédio sexual
A Consulta Nacional dos Bancários 2015 identificou que o assédio sexual preocupa 12% dos bancários que responderam ao questionário. Para avançar no combate ao problema, os trabalhadores querem instalação de um grupo de trabalho para produzir uma campanha de prevenção, em conjunto com os bancos. Além de acompanhar o processo de apuração e solução dos casos.

“A Fenaban alegou que não quer causar pânico diante do tema. Mas a campanha que estamos propondo é de caráter pedagógico e de prevenção educacional. O assédio sexual deve ser uma preocupação de todos nós, representantes dos bancários e dos bancos”, explicou Fabiano Paulo Junior.

Ausências remuneradas
A pauta dos bancários também quer garantir aos pais o direito a um dia de ausência remunerada, a cada seis meses, para participar de reuniões escolares com os professores para cada filho, seja natural, adotado ou enteado, em idade escolar.

Identidade visual
O Comando Nacional cobrou respeito à expressão de personalidade e identidade visual dos empregados, defendendo que já passou da hora dos bancos deixarem de interferir no corte de cabelo, na barba e até nas roupas dos funcionários. As características físicas expressam o direito de personalidade de cada um, que tem sido negado há muito tempo, reclamaram os representantes dos trabalhadores.

A Fenaban se recursou a colocar esta cláusula na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) e preferiu passar o bastão para cada banco, sem levar em conta a importância que o debate merece, ao tratar do combate à discriminação no ambiente de trabalho.

“Os nossos sindicatos e federações, com a nossa histórica unidade, tem conversado muito com os bancários e as bancárias nos locais de trabalho, estão mobilizados para a luta. Com isso, tenho certeza que vamos continuar o nosso ciclo de ganhos reais e vamos avançar em novas conquistas sociais. Juntos somos fortes”, declarou o presidente da Contraf-CUT.

Semana de luta
Os bancários retomam, nesta semana, a mesa de negociações específicas com a Caixa, com os temas “carreira, isonomia e organização do movimento” e também com o Banco do Brasil, sobre “reivindicações de cláusulas sociais e previdência complementar”. As duas reuniões acontecem na próxima sexta-feira (11), em Brasília.

Calendário Negociações

Fenaban
15/9- Saúde (mesa extra)
16/9 – Remuneração

Caixa
11/9 – Carreira, isonomia e organização do movimento
18/9 – Contratação, condição das agências e jornada

Banco do Brasil
11/9 – Cláusulas sociais e previdência complementar
18/9 – Remuneração e plano de carreira